Fernanda Simon, Coordenadora Nacional do Fashion Revolution Brasil, fala sobre o Movimento Global que luta pela Ética e Sustentabilidade na Moda.
Fernanda Simon, Coordenadora Nacional Fashion Revolution Brasil | Foto Divulgação
A indústria da moda é a segunda indústria mais poluente do mundo e o maior desastre mundial da indústria têxtil aconteceu em 24/abril/2013, no Rana Plaza, em Bangladesh. A trajédia vitimou mais de mil pessoas e deixou outras 2,5 mil feridas. Elas trabalhavam em condições análogas à escravidão para confecções que atendiam grandes marcas globais de vestuário e acessórios.
A 'Fashion Revolution Week' é celebrada, anualmente, em mais de 90 países, promovendo uma semana de palestras, workshops e debates sobre o verdadeiro impacto da moda no mundo, mas o Fashion Revolution continua a todo vapor em todos os meses do ano.
A campanha surgiu no Reino Unido com o objetivo de aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto em todas as fases do processo de produção e consumo, e de criar conexões exigindo transparência.
Imagem da Campanha | Foto Divulgação
Conheci o movimento no início deste ano quando tive a oportunidade de assistir ao Documentário The True Cost disponível no NetFlix e, desde então, mudei a minha forma de pensar sobre a moda e o consumo.
Apoio o movimento, já fiz posts aqui no blog, divulgo através do meu site e com as pessoas que conheço, participei da 'Fashion Revolution Week' do Estado da Paraíba e, hoje, Fernanda Simon, Coordenadora Nacional do Fashion Revolution Brasil, é a minha convidada especial para um bate papo saudável sobre moda consciente.
Equipe Fashion Revolution Brasil | Foto Divulgação
Da esquerda para a direita: Eloisa Artuso, Marina de Luca, Ana Sudano, Fernanda Simon e Mariana Lombardo.
BATE PAPO
TAIARA: Oi Fê, obrigada por aceitar o convite, é um prazer tê-la aqui no Bloguesia. Então, conta pra gente como você descobriu o Fashion Revolution e como surgiu a ideia de trazê-lo para o Brasil ficando à frente e responsável pelo movimento num país tão extenso como o nosso?
FERNANDA: O Fashion Revolution surgiu em Londres, em 2013, mas logo começou a se espalhar por diversos países. Nesta época eu morava em Londres e trabalhava para a Jocelyn Whipple, personagem importante da moda sustentável na Inglaterra e também umas das coordenadoras do Fashion Revolution Global. Eu acompanhava de perto o crescimento do cenário da moda sustentável na Europa e ao mesmo tempo percebia a necessidade de se falar sobre o assunto no Brasil. Quando nasceu o Fashion Revolution, eu já tinha planos de voltar para o país, assim fui convidada pelos representantes para ser a coordenadora nacional. O movimento foi oficialmente lançado no Brasil em maio de 2014, começou com uma equipe pequena, eu Fernanda e a Bruna Miranda, que cuidava da parte de comunicação, depois de alguns meses foram chegando as outras meninas. Hoje o movimento conta com uma equipe bem estruturada e representantes em diversos Estados.
TAIARA: Como Coordenadora Nacional do Fash Rev Brasil e estando super engajada neste trabalho, você deve saber bem o quanto o movimento já evoluiu no Brasil e no Mundo. Na sua opinião, qual foi o maior avanço e conquista que o Fash Rev já teve até o momento?
FERNANDA: Na minha opinião, a maior conquista é ver o crescimento do movimento e as iniciativas que vêm surgindo na área. No primeiro ano da campanha, durante o Fashion Revolution Day, por exemplo, aconteceram apenas alguns eventos, na campanha deste ano, tivemos quase 400 atividades em todo o Brasil e mais de 50 faculdades de moda participando. O movimento se tornou extremamente representativo e prova que está cumprindo a missão da conscientização e fomento do consumo consciente e mercado de moda ética. O Fashion Revolution nasceu para provar que a moda pode e deve ser uma força para o bem, desde 2014, quando o movimento foi lançado no Brasil, dezenas de iniciativas, marcas e ações surgiram para abraçar e fomentar a causa.
TAIARA: Eu era muito consumista, mas ao longo dos anos, fui mudando esse meu comportamento aderindo a um estilo de vida mais minimalista e consumindo apenas o necessário. Foi quando, no início deste ano, descobri o Fashion Revolution que me levou a assistir ao Documentário The True Cost, a partir daí, mudei ainda mais a minha forma de pensar e consumir a moda. Através dos meus posts, gosto de incentivar a criatividade dos meus leitores ao invés do consumo. O que você acha dessa proposta de posts?
FERNANDA: Eu acredito que é essencial que os formadores de opinião percebam as mudanças que ocorrem no planeta, se tornem conscientes e entendam o real poder de transformar que possuem, não só transformar, mas também inspirar através da informação verdadeira e do exemplo. Então Taiara, com suas dicas, seus leitores podem passar a enxergar a moda (e o mundo) por outro ângulo!
Imagem da Campanha | Foto Divulgação
TAIARA: Sabemos que a indústria da moda é a segunda mais poluente do mundo e que, infelizmente, nos dias de hoje, ainda há muita prática de trabalho escravo nesse setor. No Brasil, como anda essa realidade? Há muitas empresas brasileiras que poluem e que praticam trabalho escravo?
FERNANDA: A questão é bem complexa, a problemática socioambiental da moda está desde da semente de algodão até o comportamento de consumo alienado, por isso precisamos observar de forma integral. O trabalho análogo a escravo ocorre em diversos países e inclusive no Brasil. Vale lembrar que as leis do país são referências e por isso muitas marcas preferem produzir em países asiáticos o que prejudica a economia local e com maior probabilidade de trabalho exploratório. Sobre a questão da poluição, entre outros impactos ambientais, é comum no Brasil sim, por exemplo: juntas, as confecções localizadas entre o Brás e o Bom Retiro geram 26 toneladas diárias de aparas têxteis.
TAIARA: Se não houver uma rápida conscientização sobre os impactos da indústria da moda e uma célere mudança de comportamento da população mundial, em um futuro muito próximo, o nosso planeta, que dispõe de recursos finitos, não será mais o mesmo. O Fashion Revolution vem fazendo a sua parte. Mas qual mensagem você gostaria de deixar para os nossos leitores para que eles comecem a pôr em prática atitudes que colaborem com essa mudança que o mundo precisa?
FERNANDA: Acredito que a partir da conscientização sobre a problemática social e ambiental escondida nas roupas, o indivíduo pode compreender, de forma sistêmica e holística, que tudo e todos estamos conectados, assim as mudanças comportamentais (como o que se consome, o que se compra, o que se veste, o que se descarta) podem gerar impactos positivos no meio ambiente e na vida de outras pessoas. Escolhas mais conscientes como comprar de produtores locais, com procedência ética, matérias-primas mais ecológicas, comprar roupas e produtos de segunda mão, trocar o que não usa, escolher peças mais atemporais e com qualidade que garantam maior durabilidade, usar o que se tem, cuidar bem e consertar, são caminhos que na prática, podem ajudar.
Imagem da Campanha | Foto Divulgação
Então é isso, "A moda é uma força a ser considerada. Ela inspira, provoca, conduz e cativa. O Fashion Revolution quer ajudar a tornar a moda uma força para o bem.", e cada um de nós pode fazer parte dessa mudança por um mundo melhor, através de pequenas ações no dia a dia. Compre menos, consuma de maneira consciente que já será um ótimo começo.
Para saber um pouco mais sobre o movimento acesse Fashion Revolution Brasil. Você também pode conferir os posts que já publiquei aqui no Bloguesia.
Caso queira apresentar algum projeto, proposta, dúvidas ou convites, escreva para Fernanda Simon, através do brasil@fashionrevolution.org, ela terá prazer em responder.
Espero que o bate papo de hoje lhe faça refletir um pouco mais sobre a moda e também possa lhe inspirar a adotar novos comportamentos. Não deixe de acompanhar o Fashion Revolution nas redes sociais - Facebook - Instagram.
Um super beijo e uma ótima semana!
Taiara Desirée