Uma reflexão sobre o consumo da água pela indústria da moda.
Dia 22 de março foi o Dia Mundial da Água, data criada em 1992, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, para promover a conscientização sobre a relevância desse bem para a nossa existência e a de outros seres vivos.
De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), apenas algo em torno de 2,5% da água da Terra é doce, sendo boa para consumo. Desse percentual, aproximadamente 69% é considerada de difícil acesso - estando presente em geleiras, águas subterrâneas (armazenadas em aquíferos) e em rios.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU) em todo o mundo, algo em torno de 2,2 bilhões de pessoas não têm acesso à água potável. Em 2050, poderão ser 5,7 bilhões vivendo em áreas com escassez de água durante, pelo menos, um mês por ano.
O Operador Nacional de Sistema Elétrico (ONS), Órgão responsável pelo acompanhamento do nível de 161 reservatórios de água espalhados pelo país, alerta que as chuvas vêm sendo cada vez mais espaçadas em todo o Brasil. Nas regiões Sul e Sudeste, que concentram 70% dos reservatórios, a situação é ainda mais preocupante. Só para termos uma ideia, entre setembro de 2020 e fevereiro de 2021, esses reservatórios receberam o menor volume de chuvas dos últimos 91 anos.
O descompasso climático – acelerado, principalmente, por grandes corporações e incompetência governamental ao redor do mundo todo – é combustível para uma situação que parece só piorar. Para diversas instituições, o aquecimento global vem se agravando de maneira mais latente pela destruição da Amazônia, impactando diretamente o ciclo da chuva.
Vivendo num planeta composto por cerca de 70% de água, nos iludimos com a falsa sensação de abundância e nos distanciamos do que verdadeiramente importa para nossa sobrevivência. A forma com a qual cultivamos, produzimos, consumimos e descartamos nossas coisas, tem sido responsável pelo aumento significativo do uso de recursos hídricos, má gestão em seu manejo e distribuição, e poluição dos oceanos.
Estima-se que de toda água presente, apenas 08% seja utilizada para uso doméstico, 22% destinada à grande indústria (em diversos setores de atuação) e 70% para irrigação. Os dados são do jornal The Guardian.
Quando pensamos na relação entre a indústria da moda e a utilização de recursos hídricos, esses números podem ser ainda mais impactantes. Vamos partilhar alguns por aqui:
Cerca de 14,4% da pegada hídrica na moda está associada a etapa industrial (The Guardian);
Estima-se que cerca de 20% da poluição da água industrial seja proveniente de etapas de tingimento e outros beneficiamentos. Podemos compreender como beneficiamentos processos de “acabamento” de fios e tecidos (The Guardian);
Uma camiseta de algodão necessita de, aproximadamente, 2.700 litros de água para ser confeccionada (Good On You);
Uma calça jeans é responsável pelo consumo de cerca de 5.196 litros de água ao longo de seu processo de produção e manutenção (Vicunha Têxtil / H2O Company / Ecoera);
Hoje, cerca de 60% das roupas produzidas no mundo todo são feitas em poliéster. Uma matéria-prima sintética (falamos sobre isso nesse post) altamente nociva quando pensamos em sua produção, uso e descarte. Segundo a Fundação Ellen MacArthur, peças confeccionadas em poliéster podem ser responsáveis por meio milhão de toneladas de microplásticos sendo despejados nos oceanos todos os anos. Fator atribuído ao estágio de lavagem de nossas roupas. Sendo importante destacar que, mesmo diante de tantos avanços tecnológicos, ainda não temos disponível no mercado filtros capazes de reter essas micropartículas.
Em meio a um cenário assustador (e que nos expõe a um possível processo de extinção humana), é preciso buscarmos alternativas emergenciais para conter tais impactos. Por meio de: transformação sistêmica de como operamos, redução de produção, formatos produtivos mais eficientes, educação e conscientização entre quem produz e quem consome e mais responsabilidade quanto ao descarte desses produtos.
Para provocar mais reflexão acerca do tema, deixamos alguns documentários que tratam o assunto:
A lei da água - O2 Play Filmes - está disponível no YouTube (link de acesso ao filme)
Brave blue world - disponível em Netflix (link de acesso ao trailer)
Mission blue - disponível em Netflix (link de acesso ao trailer)
River blue - disponível em Netflix (link de acesso ao trailer)
A websérie Mares Limpos - promovida por Fernanda Cortez, criadora do Menos 1 Lixo, está disponível na íntegra no YouTube (link de acesso)
Beijos e até a próxima!
Julia Codogno
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