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eco-vegan lifestyle

  • Foto do escritorGuilherme Fioravanti

RESISTÊNCIA A MUDANÇAS E AFETO AO PALADAR

Atualizado: 19 de ago. de 2020

Como entender nossa dificuldade em mudar hábitos e nossa relação com a verdade que buscamos.



Quantas vezes nos deparamos com frases “soltas por aí” que, por serem repetidas diversas vezes, acabam se tornando “verdades absolutas”? Quantas vezes pesquisamos a veracidade de tais informações ou contestamos os autores ou até mesmo as circunstâncias nas quais foram escritas? Raramente, não é verdade?

O que é necessário para você, leitor, considerar algo verdadeiro? Deve-se ter comprovação científica? Ser dito por algum especialista do assunto? Estar escrito na Bíblia? Ter sido visto ou tocado? Ou deve simplesmente satisfazer sua maneira de pensar ou tranquilizar sua consciência? Quais são seus pré-requisitos para a verdade?


Será que o nosso consciente ou mesmo inconsciente não desempenham também, papel importante nessa incansável busca de uma verdade condizente com nossos princípios morais de maneira racional, satisfazendo também nossos desejos e explicando a razão da nossa existência?


Se existem estudos científicos que comprovam coisas opostas, por exemplo, em qual acreditar? Quem financiou ou patrocinou tais estudos, buscava algum resultado que o beneficiasse? Os autores desses estudos têm vieses políticos, ideológicos ou financeiros? Será que é possível estabelecer uma verdade insofismável? Ou uma imparcialidade perfeita que consiga atender aos requisitos necessários para determinar algo como verdadeiro ou não?


O ser humano jamais será um robô, e fatores como sua história de vida, sociedade e cultura que fizeram parte da sua formação, somados as suas experiências individuais e emoções sentidas ao longo da vida vão determinar a “verdade” de cada um e a subjetividade como um todo, tornando um julgamento perfeitamente imparcial, praticamente impossível.


E é com essa breve reflexão que convido o leitor, como de praxe, mais uma vez, a refletir sobre os argumentos aqui utilizados com a “guarda baixa”, entendendo que o objetivo não é passar uma “verdade absoluta” e sim propor um melhor entendimento do assunto e uma possível mudança baseada na própria reflexão aqui estimulada, pois sei que após a leitura do parágrafo inicial, a pergunta: “Como dar créditos a esse texto que fala sobre hábitos alimentares, se ele foi escrito por um vegano que claramente quer defender esse ponto de vista?” pode surgir.




Quando tentamos encontrar o princípio do porquê algo foi determinado por todos como bom ou ruim, certo ou errado, de certa maneira fica inevitável colocar em jogo influências históricas e religiosas, mas se desconsiderarmos estas e formos mais afundo, poderíamos supor racionalmente que essas determinações foram criadas nos primórdios a partir dos sentimentos que eram gerados, baseados principalmente em coisas que dão prazer ou que nos causam dor. Poderíamos nos aproximar de entender o que para nós, individualmente, é certo ou errado, bom ou ruim levando em conta perguntas como: “Isso me traz sensações físicas e emocionais boas? Isso me causa dor física ou um aperto ruim no peito? Gostaria que alguém me fizesse o que estou fazendo? A minha atitude teve uma consequência de curto e longo prazo benéfica ou pelo menos irrelevante? O que estou fazendo tem impacto na vida de outra pessoa ou ser? Esse impacto é positivo?


Podemos supor que essas perguntas e reflexões estabeleceram os primórdios das nossas concepções de certo ou errado. E partindo desse ponto, te pergunto: Será que é justo e certo causar o sofrimento ou a morte de algum ser para nos alimentarmos, quando isso não é necessário? Ressalto a parte da necessidade, pois a associação do consumo de carne como sendo fundamental para a saúde já caiu por terra e hoje a maior associação de nutrição do mundo (AND), publicou que uma alimentação 100% à base de plantas não só possível, mas pode também ser bastante benéfica e é recomendada em todas as idades, inclusive para gestantes e bebês.


Então, se não é necessário, por que fazemos? Existem quatro motivos para nosso consumo de carne, leite, ovos etc.: 1- Conveniência, 2- Tradição, 3- Hábito e 4- Sabor. Desses quatro o que mais temos apego é ao sabor, e o que mais nos impede de mudar.


A prática do consumo da carne iniciou-se há mais de 2 milhões de anos, quando nossos primatas ainda eram da espécie Homo erectus, a agricultura animal existe há aproximadamente 10 mil anos e, sabemos também, que foi importante característica antropológica para o desenvolvimento do ser humano. Então por que deveríamos parar de comer? Se nos consideramos o topo da cadeia alimentar, por que não podemos tirar proveito disso? Se nascemos em um país que tem a agricultura animal como uma das principais atividades monetárias e uma cultura de churrasco, que inevitavelmente é associada com sentimentos de prazer, tanto do paladar quanto com o fato de ser um motivo de reunião de amigos, familiares e comemorações, por que mudar?





Nesse momento, conecto as partes do texto que até então parecem não estar relacionadas. Se a minha verdade condiz com não causar sofrimentos desnecessários, por que eu consinto e justifico comer produtos de origem animal? Se não gosto de injustiças e me dói dentro da alma quando vejo algum ser com medo, sofrendo sem merecer, se quando somos crianças ou mesmo adultos muitas vezes sentimos dó dos animais em diferentes ocasiões e tentamos salvá-los muitas vezes (ex. quando devolvemos um peixe pro mar, damos comida ou carinho a um cachorro abandonado, ajudamos um passarinho a voltar a voar, ou simplesmente nos aperta o coração quando vemos alguns animais sendo caçados e comidos por outros) por que ignoramos nossos instintos e sensos de justiça quando se trata da nossa alimentação? Por que simplesmente fechamos os olhos para uma verdade que não queremos ver? Por que consumo carne, porém não quero ver nenhuma parte do processo que resultou naquela comida no meu prato?


Onde está nossa verdade nessa hora? Onde está a justiça que buscamos? Onde está o “faço ao outro aquilo que gostaria que me fosse feito”, que de certa forma faz parte de um consenso geral de certo e errado? Será que realmente compactuamos e concordamos com todo o sofrimento gerado para que possamos nos alimentar e ter alguns momentos de prazer? Será que se realmente não considerássemos errado o que é feito com os animais, teríamos tanta aversão a ver imagens fortes de como a cadeia de produção funciona e fugiríamos tanto de qualquer informação que nos é dada em relação ao que estamos consumindo? Será que se não mudarmos, a maneira como tudo é feito vai mudar? Será que se não pudéssemos terceirizar o serviço e tivéssemos que nós mesmos abater os animais que consumimos, conseguiríamos?


A mudança desse nosso hábito parece muito complicada quando pensamos no que vamos comer de maneira restritiva, que lugares poderemos frequentar, e qual será a aceitação dos que nos rodeiam. Além disso é algo que fizemos a vida inteira, que faz parte da nossa cultura e que acima de tudo nos dá prazer, então, essa tarefa nos dá a impressão de ser muito difícil de realizar. Agora te pergunto: “De todas as suas conquistas na vida que te trouxeram mais júbilo e prazer, quantas foram fáceis?” “De todos os eventos mais significantes na sua história, quais deles aconteceram sem nenhuma mudança ou dificuldade?” e por último: “De todas as vezes que estava com medo de algo desconhecido e decidiu se arriscar, quantas vezes resultou em uma memória incrível e inesquecível?” Nossa vida é feita de mudanças, e apesar de elas serem desafiadoras, são as que mais nos fazem caminhar para frente e melhorar e que, no final, nos dão as melhores sensações.





Como redator dessa matéria, posso dizer que entendo todas as dificuldades de se tornar vegano e que inclusive já usei todos os tipos de argumentos para poder seguir consumindo e que também sei que cada um tem seu tempo, mas minha busca e meu objetivo com essas reflexões é tentar diminuir ao máximo esse seu tempo relatando minha experiência pessoal e o quão maravilhosa essa mudança foi na minha vida, e que apesar de ter sido algo que sempre acusei como radical demais e muito difícil de se fazer, foi uma transição tranquila e que não afetou meu convívio social, familiar, nem mesmo o meu prazer com a alimentação.


Mudar é difícil, mas resistir às mudanças pode ser muito mais desgastante e desafiador, já que tudo se transforma constantemente e essa é a lei imutável da natureza, onde nosso corpo e toda a matéria existente está em constante mutação.

Por isso, finalizo essa matéria te incentivando a tentar mudar, apenas tentar. Fique um dia sem consumir carnes, ovos ou derivados de animais, e veja quais dificuldades enfrentará. Observe como se sentiu e se foi tão difícil como você imaginava. Vá aumentando aos poucos, ou simplesmente assista a um documentário que retrata as realidades dos animais (Terráqueos ou Dominion) e se prepare para mudar da noite pro dia, rs.


Quando pensar que um dia não fará diferença, lembre-se que a cada dia que você adota tal atitude, você está “economizando”: 4100 litros de água, 20kg de alimento, 3m2 de terra, “9kg” de CO2 e está salvando a vida de um animal.


Pergunte-se sempre: “Será que meu prazer sensorial vale mais que a vida de um animal ou é motivo plausível para causar seu sofrimento?



Guilherme Fioravanti

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