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Foto do escritorJulia Codogno

O GREENWASHING NA MODA

O Greenwashing é a nova tendência da moda?



Ao longo dos últimos anos, o conceito de criar e produzir itens mais responsáveis e com menores impactos, tem ganhado destaque entre instituições, movimentos e academia. São diversos os estudos e relatórios realizados por profissionais que já identificam a profunda conexão entre nosso formato de produção linear - baseado em: extração, produção e descarte - com a degradação ambiental e cenários catastróficos que beiram a impossibilidade de reversão.

Segundo o relatório Measuring Fashion: Environmental Impact of the Global Apparel and Footwear Industries Study - organizado pela consultoria Quantis - a indústria da moda é responsável por cerca de 8% de todos os gases de efeito estufa emitidos (os dados são de 2018).


O setor também está relacionado à grande utilização de recursos hídricos para o cultivo e produção de matéria-prima, contaminação de lençóis freáticos, descarte indevido de insumos e excedentes, é apontado como o 2º que mais expõe pessoas a trabalhos análogos à escravidão e diversos outros problemas desencadeadores de descompassos sociais e da crise climática.

Tratando-se de um mercado amparado pela grande produtividade - em volume de peças, alta lucratividade e constante exploração do meio ambiente, a pressão por melhores práticas vem sendo crescente e inflamando discussões acerca de táticas mais eficazes. Um caminho que se torna estreito demais para um sistema operacional instalado há tantos anos e que demonstra pouca disposição para implementar transformações realmente significativas.

Um ambiente confortável para quem está habituado a criar boas (e convincentes) histórias. Afinal de contas, porque modificar estruturas internas quando podemos somente fazer parecer que as alteramos?



Assim começamos a vivenciar o tal Greenwashing!

Sobre o termo:

Greenwashing, ou “lavagem verde”, numa possível tradução, é o nome dado à ações direcionadas a mascarar práticas e condutas de uma determinada empresa para que consumidores finais acreditem que uma marca ou produto tenha atributos relacionados a sustentabilidade.

São práticas direcionadas a contar falsas histórias, ocultar dados relevantes, mentir sobre processos de produção e diversos fatores internos, criar imagens fantasiosas e estimular a falta de transparência entre quem produz e quem consome.

Por que?

De acordo com a empresa Nielsen: 42% dos consumidores brasileiros estão mudando seus hábitos de consumo para reduzir seu impacto ambiental e 30% dos entrevistados estão atentos aos ingredientes que compõem os produtos. As informações foram obtidas através do relatório Mentira Verde divulgado pelo IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.

O estudo lançado anualmente pela plataforma Pinterest - que tem aproximadamente 400 milhões de pessoas cadastradas, identificou que a busca por “uma vida mais sustentável para iniciantes”, por exemplo, cresceu cerca de 265%. E que a procura por “marcas de moda sustentável”, teve um crescimento de 49%. Os dados são de 2019.

Pesquisas também apontam que quando o assunto é investimento, organizações que adotam tais medidas se destacam como as mais valorizadas e confiáveis.


De 2005 a 2018, o Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bolsa de valores de São Paulo (B3) - que tem como objetivo analisar a performance das empresas em aspectos sustentáveis - apresentou rentabilidade de 203,8%, ante 175,38% do Ibovespa. No mesmo período, o ISE teve a menor volatilidade: 24,67%, enquanto a do Ibovespa foi de 27,46%.

Num mercado tão esgarçado e que vem apresentando poucas inovações em meio a competitividade de tantos lançamentos, parece que a sustentabilidade se tornou uma valiosa moeda de troca. Mesmo que seja somente para estampar algumas campanhas.

Mas como saber?

Identificar tais atitudes não é uma tarefa fácil. Afinal, estamos falando de grandes investimentos para que a roda continue a girar e o questionamento seja cada vez mais silenciado.


Mas já é possível encontrar ferramentas que podem ser um caminho para a construção de diálogos mais éticos e verdadeiros.


  • O Índice de Transparência Fashion Revolution

Realizado pelo movimento Fashion Revolution, o material é elaborado através da participação de marcas do setor dispostas a compartilharem suas práticas. Pode ser acessado de maneira gratuita e online aqui.

  • O App Moda Livre

Desenvolvido pelo Repórter Brasil - uma ONG fundada em 2001, por jornalistas, cientistas sociais e educadores com o objetivo de fomentar a reflexão e ação sobre a violação aos direitos fundamentais dos povos e trabalhadores no Brasil.


O aplicativo avalia as medidas que as marcas adotam em relação ao monitoramento de seus fornecedores, inclusive avaliando a transparência desses processos e atualizando históricos de denúncias. Além da avaliação de diversas marcas que têm operações no Brasil, o App também oferece notícias sobre o assunto, explica a metodologia desenvolvida e a definição de escravidão pela legislação brasileira.

Saiba mais aqui.


Seja parte dessa mudança. Questione!


Sempre que possível, questione marcas e empresas sobre a forma com a qual produtos e serviços são desenvolvidos. E caso isso não seja possível, denuncie.


Discursos manipulados, rasos e até mesmo, infundados para propiciar a venda, são proibidos e vêm sendo acompanhados pelo CONAR - Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária. Que determinou regras onde nenhuma publicidade veiculada no Brasil poderá enaltecer características de sustentabilidade de determinado produto, serviço ou marca se a empresa responsável não comprovar tais atributos.

A transparência não é (e nem deve ser) mais uma tendência da moda.

Até a próxima.

Beijos!

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Bloguesia by Taiara Desirée
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