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  • Foto do escritorJulia Codogno

QUEM FAZ AS NOSSAS ROUPAS?

Atualizado: 16 de jul. de 2020

Você já parou para pensar de onde vem as roupas que você usa? Ou quais são as pessoas

responsáveis por sua produção?

Foto: Pexels

A cada ano, aumenta exponencialmente a quantidade de peças produzidas no mundo todo. Pesquisas mais recentes, citadas pelo site Business Of Fashion, estimam que algo em torno de 114 BILHÕES de novas peças estavam sendo fabricadas anualmente.


O site Global Fashion Exchange, menciona que esse número já possa estar perto das 140 BILHÕES de peças. O que nos levaria a uma média de 383 milhões sendo produzidas por dia e, aproximadamente, 4,4 mil a cada segundo.


Para mantermos um ritmo tão frenético, colocamos vários elos dessa extensa cadeia produtiva em situação alarmante e profundamente negligenciada.


Para entendermos melhor sobre tudo isso, vamos voltar um pouco na linha do tempo e pensar nas transformações que essa grande indústria já passou ao longo dos anos.


Se lá no começo a vestimenta era alcançável somente para quem obtinha alto poder aquisitivo e poderia pagar por peças sob medida, tendo modelagens com grandes volumes de tecidos, acabamentos e ornamentos, com o passar do tempo tudo isso foi mudando e os acessos foram ficando maiores.


Em 1900, nos primórdios da alta costura, as vestimentas eram criadas e produzidas pelo administrador da casa de moda. Em menor quantidade e maior tempo entre os processos. Ainda no século 20, em 1929, durante a Primeira Guerra, veio a Grande Depressão e um período de escassez.


Vários insumos para produzir as peças já não eram encontrados com a mesma disponibilidade e as fábricas já não operavam da mesma forma. Os anos 30 foram marcados por uma grande recessão, onde se tornou preferível consertar as peças desgastadas que já existiam à comprar outras novas (tanto por falta de produtos, quanto por falta de dinheiro).


Nesse período, por volta de 1934, também começou a surgir um formato produtivo conhecido como Pret à Porter (ou o pronto para levar) e que se popularizou em meados dos anos 50, com peças sendo produzidas em série e preços mais baixos para atender a perda de recursos na época.


Nos anos 40, durante a Segunda Guerra, o cenário de escassez tornou a se repetir. Matérias primas já não eram produzidas e/ou encontradas, as importâncias se transformaram e a maneira de consumo também mudou.


As mulheres estavam mais presentes no mercado de trabalho (para aumentar a renda e suprir as baixas masculinas ocasionadas pelo período de guerra) e passaram a fazer uso de outras vestimentas, como peças mais sóbrias, materiais mais duráveis e versáteis.


Já no período pós-guerra, tudo se transforma novamente!

A década de 50 surge como um berço do consumo.


Depois de um período de intensas restrições, a grande indústria reina e passa a inserir no mercado diversos e diferentes produtos e estimular a compra para aquecer o comércio e fazer a economia voltar a girar.


É nessa época que as modelagens ficam mais românticas e começamos a ver publicidades e produtos que estimulem a imagem daquela tradicional família de margarina. Sugerindo que estejam mais unidas e felizes e voltem a prosperar. Também é onde o Pret à Porter (que citamos há pouco) integra um novo sistema de negócio.


Na década de 60, celebridades se destacam entre as campanhas publicitárias. Novos materiais sintéticos (mais resistentes e com vantagens quanto ao uso) como o PVC e o poliéster entram no mercado, várias fábricas começam a surgir e a moda passa a ser acessível à grande massa. E é aí que a maneira como entendemos o mercado de moda começa a despontar.


Nos anos 80, as grandes empresas percebem que alocando suas produções para países asiáticos, teriam a oportunidade de “ baratear ” suas operações e disponibilizar produtos a valores mais baixos. Uma maneira de produzirem com menores investimentos, venderem em maiores quantidades e atingirem melhor rentabilidade em seus negócios. Foi nesse mesmo período que o ciclo sazonal que conhecemos tão bem, com lançamentos de uma nova coleção à cada estação, ficou ainda mais acentuado.


Chegando aos anos 90, momento em que o boom do setor acontece. Com a globalização de marcas e produtos e com maiores acessos, pessoas do mundo todo passaram a consumir mais e mais rápido e as marcas não perderam tempo (nem oportunidade) em expandir seus negócios.


Para atender essa demanda desenfreada e o alto desejo por novos produtos, as grandes empresas tiveram que rever rapidamente suas formas de produção. Se antes uma peça levava em média cerca de 4 meses para ser produzida (tendo em conta cada etapa do processo), para suprir essa nova necessidade pelo novo , setores industriais aceleraram seus meios produtivos e já era possível que uma roupa levasse apenas 3 semanas para chegar até as lojas.


Chegamos a era do FAST FASHION. Onde os produtos precisam ser feitos de maneira rápida, a custos cada vez menores e, preferencialmente, possam ser “perecíveis”. Durando o menor tempo possível em cada coleção e facilitando que o desejo seja constantemente suprido por novas aquisições.


Como falamos logo na abertura deste texto, produzir dentro de um contexto de menores investimentos e maior lucratividade, expõe elos frágeis dessa grande, poderosa e rentável indústria. Realizando ações capazes de negligenciar a vida humana e a saúde do planeta.


Foto: Wix

Vamos entender melhor como funciona:


Estima-se que hoje, pelo menos 80% das peças consumidas no mundo todo, sejam produzidas em algum lugar da Ásia como: Índia, China, Filipinas e Indonésia. Esses lugares não são escolhidos por acaso, são locais que costumam predispor condições bastante interessantes para as marcas que os escolhem.


Boa parte desses países ainda se encontra em condições de desenvolvimento e com situações intensamente precárias. Isso possibilita a entrada de diversas empresas - que alegam estar contribuindo para o acesso a empregos e melhores condições a esses trabalhadores - para produzirem seus produtos em regiões com pouca ou nenhuma legislação trabalhista vigente. Essa deficiência faz com que pessoas realizem longas jornadas de trabalho (estimadas em até 16 horas por dia), normalmente em prédios clandestinos (sem qualquer condição de segurança), expostos à materiais nocivos à saúde, sem qualquer condição digna de sobrevivência e com salários irrisórios (chegando à receber menos de US$100 por mês).


Segundo um relatório da ONG Remak, cerca de 75 milhões de pessoas trabalham atualmente no mercado da moda no mundo todo. Sendo 80% mulheres entre 18 e 24 anos. Outro relatório mostrou ainda que a existência de trabalho infantil e análogo à escravidão continuam presentes em países como: Argentina, Bangladesh, Brasil, China, Índia, Indonésia, Filipinas, Turquia e Vietnã.


Sim, essas são as pessoas que costuram e produzem as peças que vestimos. Pessoas que não possuem a escolha de não trabalhar diante de tais condições - uma vez que vivem em lugares sem qualquer perspectiva de melhora - e se veem “obrigadas” a continuar parte desse sistema desumano que se criou.


A situação é tão grave que, em 2013, mais de 1000 pessoas morreram e mais de 2000 ficaram gravemente feridas em um acidente em Bangladesh (já previsto por quem estava presente nas alocações) onde um, dos diversos prédios que funcionam como oficinas, desabou. Esse acidente foi apenas um, de tantos outros que acontecem ano após ano.


No Brasil, esse contexto não é exceção. Tendo recorrentes casos e denúncias de trabalho análogo à escravidão, envolvendo oficinas clandestinas, em regiões conhecidas popularmente, como Brás e Bom Retiro, além de tantas outras espalhadas pelo país.


Em 2018, foram identificados cerca de 14 costureiros escravizados em duas oficinas. De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, entre 2003 e 2014, foram fiscalizados 34 casos de trabalho análogo ao de escravo por aqui, onde foram libertados 452 costureiros de oficinas localizadas no Estado de São Paulo.


Vale lembrar que o Brasil é o 5º maior produtor têxtil e o 4ª maior confeccionista do mundo. Além de ser um dos poucos países que ainda contempla toda a cadeia produtiva, desde o cultivo da matéria prima, até a confecção de determinada peça. Dados coletados com a ABIT.


Quando compramos algo - a fatalmente compramos - estamos ligados à esse processo.


Quando escolhemos (e podemos) consumir de determinada marca, estamos ajudando a financiar esse assassinato coletivo que existe por trás da produção de cada peça. Isso precisa mudar, a indústria precisa se transformar! Nossa maneira de consumir já não pode mais continuar da mesma forma.

Vamos repensar nossas escolhas, vamos cobrar mais de quem pode e deve fazer algo. Através de políticas públicas, legislações efetivas e um olhar muito mais atento e responsável para como as marcas estão se posicionando.


Uma reflexão provocativa para que possamos fazer parte dessa revolução.


Até o próximo papo :)



Fontes: Business Of Fashion | Global Fashion Exchange | ONG Remak | Ministério do

Trabalho e Emprego | ABIT | Fashion Revolution / Fotos: Pexels | Wix / Texto: Julia Codogno

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